sábado, 2 de março de 2013

Facebook em Zygmunt Bauman


Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, o facebook é uma espécie de revista "caras" individual onde a pessoa comum se exibe da mesma forma que o fazem as celebridades nas revistas impressas. De fato tornou-se hoje o local próprio para o exercício de um exibicionismo grosseiro que está a serviço de uma autopromoção patética de si mesmo. "Penso logo existo" é substituído por "sou visto logo existo". As relações significativas estão gradualmente passando da intimidade para o que psicanalista francês Serge Tisseron chama de 'extimidade'. Celebridades encarnam essa nova condição, funcionando como estrelas-guias e padrões a serem seguidos para as massas que sonham e lutam em tornar-se commodities vendáveis.

É verdade que é possível o uso das redes sociais de forma sadia e equilibrada. Porém é também verdade que o limite que separa o uso equilibrado do uso dependente, é extremamente tênue e frequentemente ignorado pela maioria dos seus usuários. Cabe a cada um fazer uma análise sincera de si mesmo. Aliás é  curioso como todos julgam-se estar entre os equilibrados, ainda que sintam desconforto ao se desconectarem por períodos prolongados. A necessidade diária de fazer uso de redes sociais é um hábito facilmente adquirível por ser excelente compensador e anestésico das misérias afetivas e sociais do homem moderno.

"Esquecidas ou jamais aprendidas, as habilidades da iteração face a face, tudo que se poderia lamentar como insuficiências da conexão virtual online, foi saudado como vantajoso. O que o Facebook, o Myspace e similares ofereciam, foi recebido alegremente como o melhor dos mundos. Pelo menos foi o que pareceu àqueles que ansiavam desesperadamente por companhia humana, mas se sentiam pouco à vontade, sem jeito e infelizes quando cercados de gente" (Zygmunt Bauman)

Me parece inegável que o grande sucesso do facebook ao redor do mundo deve muito ao tripé: exibicionismo, autoafirmação e solidão. Porém o saldo final da tentativa de maquiar nossas próprias misérias é sempre negativo e amargo. Apesar disso, esse fenômeno é universal e manifesta-se em todos os meios e círculos sociais, desde os mais primitivos até os mais sofisticados, porém curiosamente está presente de forma mais intensa nos meios intelectuais e religiosos.

Há uma certa preocupação em vomitar análises originais do que quer que seja e avidez em compartilhar imagens e links inéditos, para então ganhar um séquito fiel de admiradores virtuais e curtidores de status.  

Sob as mais diversas égides artificialmente criadas, aparentemente nobres e muitos justas, o que acontece é um verdadeiro espetáculo de autoafirmação e vaidade. Quem nunca se deparou com perfis de usuários que apresentam-se como grande eruditos das ciências humanas tendo-se como mais sofisticados intelectuais e filósofos? A vaidade é um reação frequente diante da adulação de sequazes virtuais.

 Essa tendência de insuflar a própria imagem e posteriormente querer acreditar no próprio teatro, não deixa de ser uma tentativa de mascarar a ruptura interna e tendência à fraqueza que todos nós carregamos.Todos sentimos a nossa vida real como uma essencial deformação da nossa vida possível (Ortega y Gasset).

O meio virtual do facebook não deixa de ser também uma uma ilusão confortadora. A tendência do indivíduo se isolar com as pessoas que tenham suas mesmas convicções e posições ideológicas é uma realidade facilmente verificável. Vide a extensão limitada do compartilhamento de imagens legendadas que vendem convicções sem fundamento metafísico. Isso promove uma falso senso de realidade; como se estivesse ocorrendo diminuição de litígios e embates a cerca das diversas visões de mundo e ser humano; que na vida real, se digladiam diariamente para chegar ao poder.